ganha-se dinheiro
em troco de trabalho
paga-se contas
e ainda há mês
paga-se o mês
e ainda há mês.
vive-se sempre
o acerto de contas
e
continua-se
a dever.
ganha-se dinheiro
em troco de trabalho
paga-se contas
e ainda há mês
paga-se o mês
e ainda há mês.
vive-se sempre
o acerto de contas
e
continua-se
a dever.
não posso prometer
paz
nem camas arrumadas
ou lençóis limpos
com afinco.
não tenho posse
e nem portes
não sei nem
dirigir.
não posso prometer
paz,
nem viagens tão alegres
nem músicas boas.
a única certeza que tenho
é que estou desde
a década de 90
lutando pra sair do inferno
e tentar ver
meu coração
produzir
algo belo
,
justo
e
bom.
não posso prometer paz,
nem boas caminhadas na areia
porque eu não possuo um humor
tão contínuo para continuar
com coisas tão longas
.
eu só queria te dizer
que estou há muito tempo
tentando sair do inferno
e por isso
não posso prometer nada.
eu estou ansioso para o dia
em que vou acreditar
que sou bom
enquanto isso
sigo aceitando o mau que fiz e
não posso prometer nada
que valha a pena.
o rio que
corre agora
inunda feliz os vales
velhos.
no peito
toda água tem notas
de música e
é assim que vibramos.
repito que eu existo
eu existo
existo
e continuo escutando o som deste rio
já quase febril
de vontade
de viver solto.
namorei uma represa,
penso. injusto.
nego.
escuto mais sons
enquanto
escrevo:
o som de alguém que você ama que está indo embora lentamente e isso não importa -
a mesma pessoa, mas com o som de sua nova surdez.
o som de tornar-se miúdo.
o teu som, o som do oceano, e o meu som.
o som de tentar queimar a chuva.
o som de uma mensagem romântica bêbada.
o som da minha cômoda guardando todas minhas roupas em outra cidade.
um estalar de geladeira.
o som de ramona na minha mente.
o som para amar um rapaz.
o som de uma fonte cheia de moedas.
e o rio
continua sendo tão frio
o nadar,
mas ele segue dentro de mim
desaguando o meu desabar
liberando o fluxo contínuo do espaço-tempo
liderando alguma coisa sem contexto
e eu
continuo sendo um
kamikaze
incapaz de
lutar.