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defender os poetas

da poesia


a saber que o autor morre

no segundo que o livro escorre

de suas mãos

renasce

então

o leitor

que

inaugura o poema

toda vez que lê

reside aí

a tecnologia

do poema

inaugurar-se

toda vez que é lido

um poema de mil autoras

mil auroras e mais

cem milhões de

mortes-vivas


o poeta projeta

seu poema

e lança a mão

para que aquilo

torne-se

vinte mil vezes

mais ou

cem mil vezes menos

porque

o poema

não é nada mais

que um conjunto

de alfabéticos

projéteis

a poesia é

a força

tecnológica

produzida

no tempo de uma vida

que arma

dentro do olho

de quem lê

o fato que acontece

aquele remexido

as borboletas no

estômago

a vontade de morte

a sede de vida

o ódio ou a ira

é o leitor-leitora

que

cria

e portanto

que escreve

toda poesia

que lê



ainda que negue

o caminho que segue

o olho percebe

antes que chegue

antes que cegue


avança ao vórtice

explícito do vício

que é a vista

o olho

lança a íris

na dança de

enxergar


enche

a córnea

de horas

de margens

estranhas

entranhas de

paisagens

forma

a

fórmula

do que é

ver


conta-se a história

de forma

burra


passaram gentes

pela caverna

que outrora

urra


passaram

homens

pela guerra

suja


passam

este gene

de gente

que conta

pela ponta

do fio

de memória

do ser

que se chama

história


a pandemia é e sempre

foi permanente

passam-se gentes

mortos ou

doentes

e

passam feito

onda

que molha

a praia

e desagua

na curva

da

saia

dessa

histérica

cobaia

chamada

memória


fincam os

fatos

e nós

gentes

passam

feito sapatos

já sem solado

num campo

descalpado

anseando

por contar

o que vimos

e sentimos

quando acreditamos

que o elo do

flagelo

iria se

soltar.





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