o rio que
corre agora
inunda feliz os vales
velhos.
no peito
toda água tem notas
de música e
é assim que vibramos.
repito que eu existo
eu existo
existo
e continuo escutando o som deste rio
já quase febril
de vontade
de viver solto.
namorei uma represa,
penso. injusto.
nego.
escuto mais sons
enquanto
escrevo:
o som de alguém que você ama que está indo embora lentamente e isso não importa -
a mesma pessoa, mas com o som de sua nova surdez.
o som de tornar-se miúdo.
o teu som, o som do oceano, e o meu som.
o som de tentar queimar a chuva.
o som de uma mensagem romântica bêbada.
o som da minha cômoda guardando todas minhas roupas em outra cidade.
um estalar de geladeira.
o som de ramona na minha mente.
o som para amar um rapaz.
o som de uma fonte cheia de moedas.
e o rio
continua sendo tão frio
o nadar,
mas ele segue dentro de mim
desaguando o meu desabar
liberando o fluxo contínuo do espaço-tempo
liderando alguma coisa sem contexto
e eu
continuo sendo um
kamikaze
incapaz de
lutar.
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