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Caio Ribeiro

a arte vem

artista,

acalma que a arte vem.

não hoje,

não amanhã.

não em um mês.


ela vem no seu descuido de artista

que quando tropeça

cai no chão um

homem


não precisa ser o homem que chora

o homem sensível

porque isso são os delírios do artista

querendo te convencer a voltar a ser estrela.


o homem comum

que tropeça e cai

e talvez machuque o pulso

e segue para o trabalho


este descuido é o momento em que a arte vem

porque ela não é uma imperatriz imbatível

mas uma

coisa estranha e tímida

resmungona

e com um humor tenso.


a arte virá especialmente

no seu fracasso

e ela vai achá-los fantásticos.

com sua cara quadrada e pálida a arte

vai te dizer coisas como

"eu te conheço e sei que não dá conta"

logo após você aceitar uma proposta de artista

ou

"você está querendo enganar a quem?"

quando mentir sobre ter gostado da arte de um dos seus amigos.


ela vai se afastar quando você gastar todo seu tempo em papos sem fundamento sobre conceito e estética.


a arte vai morar com você e vai se interessar mais

pela curva do seu maxilar

do que pelo seu último poema.


ela vai gastar mais tempo limpando o rejunte do piso

do que desenhando flores e frutos.


a arte vai decidir se isolar no mato e no começo

você vai só fingir interesse, e ela vai saber disso.


E só quando você dominar todos os ofícios da arte,

da calma dos dias,

das poses de dança,

só quando saber o nome de vinte novas árvores

e aprender cachoeiras distantes

só nesta hora

a arte vai embora.


e é aí que você será um artista.

mas não seja dramático

e não se faça de órfão da arte

de filho abandonado.


agora a arte está

para sempre numa

mesa simples de madeira

no seu coração.

e você deve passar todas as suas criações

por esta mesa, onde você pode colocar

algumas coisinhas

que façam sentido.



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