artista,
acalma que a arte vem.
não hoje,
não amanhã.
não em um mês.
ela vem no seu descuido de artista
que quando tropeça
cai no chão um
homem
não precisa ser o homem que chora
o homem sensível
porque isso são os delírios do artista
querendo te convencer a voltar a ser estrela.
o homem comum
que tropeça e cai
e talvez machuque o pulso
e segue para o trabalho
este descuido é o momento em que a arte vem
porque ela não é uma imperatriz imbatível
mas uma
coisa estranha e tímida
resmungona
e com um humor tenso.
a arte virá especialmente
no seu fracasso
e ela vai achá-los fantásticos.
com sua cara quadrada e pálida a arte
vai te dizer coisas como
"eu te conheço e sei que não dá conta"
logo após você aceitar uma proposta de artista
ou
"você está querendo enganar a quem?"
quando mentir sobre ter gostado da arte de um dos seus amigos.
ela vai se afastar quando você gastar todo seu tempo em papos sem fundamento sobre conceito e estética.
a arte vai morar com você e vai se interessar mais
pela curva do seu maxilar
do que pelo seu último poema.
ela vai gastar mais tempo limpando o rejunte do piso
do que desenhando flores e frutos.
a arte vai decidir se isolar no mato e no começo
você vai só fingir interesse, e ela vai saber disso.
E só quando você dominar todos os ofícios da arte,
da calma dos dias,
das poses de dança,
só quando saber o nome de vinte novas árvores
e aprender cachoeiras distantes
só nesta hora
a arte vai embora.
e é aí que você será um artista.
mas não seja dramático
e não se faça de órfão da arte
de filho abandonado.
agora a arte está
para sempre numa
mesa simples de madeira
no seu coração.
e você deve passar todas as suas criações
por esta mesa, onde você pode colocar
algumas coisinhas
que façam sentido.
Comentarios