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Caio Ribeiro

cuiabá-chapada

vem, levanta


me disse

depois d'eu acordar

no seu peito


vou te levar a um lugar


eu fui como um cão

que confia no que fareja

e fomos

e fomos

por uma estrada longa e escura

e eu te olhava

e você olhava a estrada

como quem vê a costa de um cavalo

e eu tentava ver isso também

mas era impossível

eu só via escuro daquela noite

com uma estrela amarrada

em algodão

no meu peito

queimava

e aquecia


era um pequeno

observatório

de alguma coisa

e estávamos lá em cima

o sol nascendo imponente

você no galho de uma árvore

vestindo vermelho

nenhuma tatuagem ainda

eu

me formando

em algum lugar

enquanto os

minutos se desintegravam

nas rugas do meu

sorriso cansado


você sabe que

eu posei para aquela foto

queria parecer

distante

mas eu tava preso

nos seus olhos

tentei te impressionar

mas você enxergava

essa carência

e eu fiz

careta sorrindo

daquele jeito que até fecho os olhos

e sinto que por um minuto sumo

e abro

e lá está você

quieta e fria

serena e dura

viva.


amanhecemos ali

pra daqui um milhão de átomos

eu lembrar

mesmo que seja

dos mosquitos


que aquela paisagem distante

faz parte da minha cartografia

cuiabá-chapada

e eu faço questão de comentar isso

hoje mais discretamente

que antes

diante das faces

que eu beijei

mas lembro

e passo adiante

levo ali

outras gentes

pra amanhecer

levo ali

eu mesmo

e deixo que tudo

me amanheça

nem anexo de lugar

sem nexo de chegar

a uma conclusão


eu fico ali parado esperando o primeiro raio de sol sair do horizonte e torço pra que ele toque o meu rosto antes de tudo, antes mesmo da relva e das arvores que são maiores que eu e das montanhas que são maiores que as árvores

mas o sol é democrático

ele me toca assim como toca o tanto de tudo que reside ali

como você mesma tentou me mostrar

como uma mariposa que bota ovos e sabe - ou acha que sabe - quais vão sobreviver

enxerguei hoje um pouco mais

e amanhã não sei

só sei que

amanhecer é sempre

um exercício de deixar

a estrela amarrada no peito

ir embora.


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