mão
- Caio Ribeiro
- 5 de ago. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 23 de ago. de 2021
esses são fragmentos da mão que vi e vou descrevê-los aqui:
a mão repousada no livro
a mão
na boca do copo impedindo o líquido
a mão dormindo no colo
a mão por si só
flutuando na memória
a costa da mão
com a veia saltando
como se fosse código morse
a palma da mão
e aquelas linhas
que eu fingi saber ler
aquelas linhas como rotas de alguém com sede
a mão na mesa
em volta de alguns tantos
papéis
a mão ainda na mesa
mas agora ao lado de uma xícara grande
a mão rápida percorrendo
as prateleiras do mercado
a mão solene na hora de dizer tchau
e se desintegrar
num aceno febril.
a mão enquanto instituição
do tocar
com uma certa pedagogia do toque
segura sem agarrar
solta sem abandonar
a mão.
a mão rígida segurando a chave
ou mão atenta tocando as
pedras do mato.
seria possível reescrever a história de tudo
a partir desta palma
uma profunda cirurgia de alma
operada
pela sua
mão.
agora
a mão percorre
a escuridão
de uma outra mão
e isso não incomoda
nenhuma outra mão
do resto do mundo
nem esta que
escreve.
Comments