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para ver daqui seis meses o que muda e o que não. postada em março de 2024.


Um filme que você não se cansa de assistir:

Matrix, de Lana e Lily Wachowski


Uma série que você maratonaria de novo:

Andor, Disney +


Um ator ou atriz que não sai da sua cabeça:

Meryl Streap


Um papel que gostaria de ter interpretado:

O Duncan Wedderburn do Mark Ruffalo, em Poor Things, seria engraçado


Para quem daria um Oscar?

Fernanda Montenegro!


Uma peça que gostaria de rever:

O Jardim, cia Hiato


Uma peça que gostaria de ter atuado:

O Jardim, da Cia. Hiato


Um livro de cabeceira:

O Apanhador no Campo de Centeio, do J. D. Salinger


Que Cantor ou Cantora nunca falta em uma playlist sua?

Cat Power


Três discos que você levaria pra uma ilha deserta:

Speaking for trees I e II, de Cat Power


Um show inesquecível:

Titãs cabeça dinossauro 2012


Um show que ainda quer assistir:

Cat Power


Qual cantor ou banda você anda dando repeat ultimamente:

Karen O


Quem você adora seguir do instagram?

Letrux


Uma exposição marcante:

Claudia Andujar: a luta Yanomami (IMS Paulista)


Uma descoberta recente nas artes:

Reggio Emilia

i.

Toda experiência é mediada – por mecanismos de percepção sensorial, mente[1], linguagem, etc. - & certamente A Arte consiste em alguma outra mediação da experiência.


ii.

No entanto, a mediação ocorre devagar. Algumas experiências (cheiros, gostos, prazer sexual, etc.) são menos mediadas que outras (ler um livro, olhar num telescópio, ouvir um disco). Algumas mídias, especialmente artes “da presença” como dança, teatro, musicais ou sarais bárdicos, são menos mediadas que outras como TV, CDs, Realidade Virtual. Mesmo entre os meios geralmente chamados de “mídia”, alguns são mais e outros menos mediados, de acordo coma intensidade da participação imaginativa que demandam. O impresso e o rádio exigem mais imaginação, filmes, menos. TV, ainda menos. Realidade Virtual é o menor de todos – até agora.


iii.

Para a arte, a intervenção do Capital sempre sinaliza um grau maior de mediação. Dizer que a arte é mercadoria é dizer que uma mediação, está acontecendo, ou aconteceu, & e que este meio-termo equivale a uma divisão, e que essa divisão equivale a uma “alienação”. Um sarau de música improvisada feito por amigos é menos “alienado” que música tocada “ao vivo” no Met, ou música tocada por meio de alguma mídia (seja PBS, ou MTV ou Walkman). De fato, pode-se dizer que a música distribuída gratuitamente ou a preço de custo em cassetes pelo correio é MENOS alienada do que a música ao vivo tocada em algum grande espetáculo do We Are The World, ou em uma botada de Las Vegas, mesmo que esta última seja música ao vivo tocada para pessoas presentes (ou pelo menos assim parece), enquanto o primeiro é a música gravada consumida por ouvintes distantes e até anônimos.


iv.

A tendência da alta tecnologia & a tendência do Capitalismo Tardio, juntos, impelem as artes cada vez mais para formas extremas de mediação. Ambos alargam o fosso entre a produção e o consumo de arte, com um aumento correspondente da “alienação”.


v.

Com o desaparecimento do “mainstream” &, portanto, de uma “vanguarda” nas artes, tem se percebido que todas as mais avançadas & intensas experiências artísticas foram recuperadas quase instantaneamente pela mídia e, portanto, são transformadas em lixo como todo o outro lixo no mundo fantasmagórico dos commodities. “Lixo”, como um termo foi redefinido, em, vamos dizer, Baltimore na década de 70, pode ser engraçado – como uma visão irônica de uma espécie de folclore[2] impróprio que cercava & permeava as regiões mais inconscientes da sensibilidade “popular” – que em volta é produzida em parte pelo Espetáculo. “Lixo” já foi um conceito fresquinho, com um potencial radical. Agora, porém, em meio às ruínas do pós-modernismo, finalmente começou a cheirar mal. A ironia fútil finalmente se torna repugnante. É possível agora SER SÉRIO, MAS NÃO SÓBRIO? (Nota: A Nova Sobriedade é, obviamente, simplesmente o outro lado da Nova Futilidade. O neopuritanismo chique carrega a mácula da Reação, da mesma forma que a ironia e o desespero filosófico pós-modernista leva a Reação. Sociedade Adicta[3]. Após os “12 passos” da renúncia da moda dos anos 90, tudo o que resta é o 13º passo da forca. A ironia pode ter se tornado chata, mas a automutilação nunca foi mais do que um abismo. Abaixo a futilidade – Abaixo com sobriedade).


vi.

A verdadeira arte é brincar, e brincar é uma das experiências mais imediatas. Não se pode esperar que aqueles que cultivaram o prazer de brincar o abandonem simplesmente para fazer arte política (como em uma “Greve de Arte” ou “a supressão sem a realização” da arte etc.). A arte continuará, mais ou menos no mesmo sentido em que respirar, comer ou foder continuará.


vii.

Mesmo assim, somos repelidos pela extrema alienação das artes, especialmente na “mídia”, nas publicações e galerias comerciais, na “indústria” fonográfica etc. E às vezes nos preocupamos até mesmo com a extensão em que nosso próprio envolvimento em artes como a escrita, a pintura ou a música nos implica em uma abstração desagradável, um afastamento da experiência imediata. Sentimos falta da franqueza do brincar (nosso pontapé original em fazer arte); sentimos falta do olfato, do paladar, do tato, da sensação de corpos em movimento.


viii.

Computadores, vídeo, rádio, impressoras, sintetizadores, aparelhos de fax, gravadores, fotocopiadoras — essas coisas são bons brinquedos, porém vícios terríveis. Finalmente, percebemos que não podemos “ir lá e tocar alguém” que não está presente em carne e osso. Esses meios podem ser úteis para nossa arte - mas eles não devem nos possuir, nem devem ficar entre, mediar ou separar-nos de nossos eus animais/animados. Queremos controlar nossos meios de comunicação, não ser controlados por eles. E gostaríamos de lembrar uma certa arte marcial psíquica que enfatiza a percepção de que o próprio corpo é o menos mediado de todos os meios.


ix.

Portanto, como artistas e “trabalhadores culturais” que não têm intenção de desistir da atividade escolhida em nossa mídia, exigimos de nós mesmos uma extrema consciência do imediatismo, bem como o domínio de alguns meios diretos de implementar essa consciência como o brincar, imediatamente (de uma só vez) e imediatamente (sem mediação).


x.

Com plena consciência de que qualquer “manifesto” de arte escrito hoje só pode cheirar à mesma ironia amarga a que procura se opor, portanto declaramos sem hesitação (sem pensar muito) a fundação de um “movimento”, o IMEDIATISMO. Sentimo-nos à vontade para fazê-lo porque pretendemos praticar o Imediatismo em segredo, a fim de evitar qualquer contaminação da mediação. Publicamente continuaremos nosso trabalho na edição, rádio, impressão, música, etc., mas em particular criaremos outra coisa, algo para ser compartilhado livremente, mas nunca consumido passivamente, algo que pode ser discutido abertamente, mas nunca compreendido pelos agentes da alienação, algo sem potencial comercial, mas valioso além do preço, algo oculto, mas tecido completamente no tecido de nossas vidas cotidianas.


xi.

O imediatismo não é um movimento no sentido de um programa estético. Depende da situação, não do estilo ou conteúdo, mensagem ou Escola. Pode assumir a forma de qualquer tipo de jogo criativo que pode ser realizado por duas ou mais pessoas, por e para elas mesmas, cara a cara e juntas. Nesse sentido, é como um jogo e, portanto, certas “regras” podem ser aplicadas.


xii.


Todos os espectadores também devem ser artistas. Todas as despesas devem ser compartilhadas, e todos os produtos que possam resultar da peça também devem ser compartilhados apenas pelos participantes (que podem mantê-los ou presenteá-los, mas não devem vendê-los). As melhores peças farão pouco ou nenhum uso de formas óbvias de mediação, como fotografia, gravação, impressão, etc., mas tenderão para técnicas imediatas envolvendo presença física, comunicação direta e os sentidos.


xiii.

Uma matriz óbvia para o imediatismo é a festa. Assim, uma boa refeição poderia ser um projeto de arte imediatista, especialmente se todos os presentes cozinhassem e comessem. Os antigos chineses e japoneses em dias enevoados de outono realizavam festas de odores, onde cada convidado trazia um incenso ou perfume caseiro. Em festas de renga[4], um verso ruim acarretaria a penalidade de uma taça de vinho. Clubes de colchar[5], tableaux vivants[6], cadáveres requintados[7], rituais de convívio como o “Museum Orgy” de Fourier (trajes eróticos, poses e esquetes), música e dança ao vivo – o passado pode ser saqueado em busca de formas apropriadas, e a imaginação fornecerá mais.


xiv.

A diferença entre um clube de colchar[8] do século 19, por exemplo, e um grupo imediatista estaria em sua consciência da prática do imediatismo como uma resposta às tristezas da alienação e à “morte da arte”.


xv.

A arte postal dos anos 70 e a cena do zine dos anos 80 foram tentativas de ir além da mediação da arte-como-mercadoria, e podem ser consideradas ancestrais do Imediatismo. No entanto, eles preservaram as estruturas mediadas de comunicação postal e xerografia, e assim não conseguiram superar o isolamento dos brincadores que permaneceram literalmente fora de órbita. Desejamos levar os motivos e descobertas desses movimentos anteriores à sua conclusão lógica em uma arte que bane toda mediação e alienação, pelo menos na medida em que a condição humana permite.


xvi.

Além disso, o imediatismo não está condenado à impotência no mundo, simplesmente porque evita a publicidade do mercado. “Terrorismo Poético” e “Sabotagem Artística” são manifestações bastante lógicas do Imediatismo.


xvii.

Finalmente, esperamos que a prática do imediatismo libere dentro de nós vastos depósitos de poder esquecido, que não apenas transformará nossas vidas por meio da realização secreta do jogo não mediado, mas também inescapavelmente brotará, explodirá e permeará a outra arte que criamos., a arte mais pública e mediada.


E esperamos que os dois se aproximem cada vez mais e, eventualmente, talvez se tornem um.


__________________________notas do tradutor

[1] Mentation, no original. [2]Folkultur, no original. [3] Binge, no original. Optei por colocar adicta para reforçar a ideia dos “12 passos”. [4] Linked-verse parties no original. Refere-se a um gênero de poesia colaborativa japonesa. [5] Quilting Bee, no original. [6] Representação por um grupo de atores ou modelos de uma obra pictórica preexistente ou inédita. [7] Conjunto coletivo de arte escrita, visual ou auditiva produzida por pessoas que não estão a par das contribuições dos outros. [8] Quilting bee, no original


Texto originalmente publicado no The Moorish Orthodox - Radio Crusade Collective pela The Libertarian Book Club, Nova York, 1992 e traduzido para o português brasileiro por Caio Augusto Ribeiro. A tradução foi publicada em seu TCC (trabalho de conclusão de curso) para obter o título de Cientista Social, pela Universidade Federal de Mato Grosso.




assisti poucas coisas em

termos de filmes, desperdicei os clássicos

e tomei como nota alguns dos mais

inúteis para uma discussão inteligente

com alguém que se acha importante

assisti como exercício a vontade

de querer um brinquedo e saber

que a mãe não pode comprá-lo

observei como jogar

nos jogos

dos amigos da rua e dos vizinhos

aprendi a milimétrica

saudade que existe na observação.

estendi as horas em coisas que não eram minhas

pois o emprestado me trazia a graça do

precioso

roubei, sim,

claro.

nunca fui puro, apesar de já querer

assisti com ênfase de saliva

coisas que minhas mãos

sempre estiveram distantes.

o desejo me é estranho porque

me faz peso de penteadeiras

tocar é provar o gosto que não está visível,

a falta essa armadilha macia

que faz delirar.

o delito como prática de não esquecer

como criação de memória.

o pequeno souvenir roubado

existe até hoje como

prova

de que eu fiz.

e eu ainda

me lembro.

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